01 maio 1997

hífen 10



anos noventa (alguns poetas)


Mais um número de HÍFEN depois de um hiato mais longo. Fomos, no número anterior (n.º 9 - Poesia Hispânica) em busca de uma identidade ibérica e a viagem custou-nos forças, emoções e recursos que nos tolheram a vontade, os motivos e o prazer de organizar um novo número, de volta a esta nação de poetas.

Desta vez, apresentam-se oito vozes que começaram a publicar na década de noventa. E nestas quase vésperas de mudança para o terceiro milénio ocorrerá perguntar o que move estas novas vozes (como outras que as circunstâncias não permitiram incluir) neste tempo em que o audiovisual parece monopolizar o imaginário e a energia da comunidade e uma sociedade construída planetariamente pela cibernética parece aproximar-se.

Neste aparente final de um tempo (linear?) em que uma outra era se aproxima - o que justificaria alguns paroxismos apocalípticos - consola-nos ver exercer, em Poesia, uma certa placidez quotidiana, em que a tensão entre o passado e o futuro se apaga, num feliz augúrio de circularidade, na procura de uma imanência inocente, de uma dessacralizada e diária humanidade.

Livres, enfim, das angústias de um anúncio judaico-cristão de Fins dos Tempos, poderemos somente esperar que toda a liberdade gere angústias. O amanhã não trará redenções, mas diferentes tristezas e júbilos. Por isso, estes aperiódicos Cadernos continuam apaixonados pela invenção poética, enquanto matéria verbal, seja sobre um ecrã, um papel, uma pedra, ou qualquer suporte ou éter ainda não reconhecido pela nossa mutável ciência humana.


Porto, Maio de 1997
I.L.



HÍFEN - CADERNOS SEMESTRAIS DE POESIA
N.º10 - MAIO 1997
(«anos noventa (alguns poetas)» - número temático)


Arranjo Gráfico - Nuno Lourenço
Fotografia - José Manuel Teixeira da Silva


Colaboração: Ana Luísa Amaral, Eva Ruivo, Firmino Mendes, João Luís Barreto Guimarães, Luís Quintais, Rui Penote Coias, Rui Pires Cabral, Sérgio Pereira.


Direcção: Inês Lourenço.

INÊS LOURENÇO E EUGÉNIO DE ANDRADE



Inês Lourenço e Eugénio de Andrade, em casa do Poeta, oferecendo o N.º10 da HÍFEN – Cadernos de Poesia.