01 abril 1989

AL BERTO



Al Berto é o pseudónimo literário de Alberto Raposo Pidwell Tavares. Nasceu em Coimbra, a 11 de Janeiro de 1948, e viveu parte da sua infância e adolescência em Sines. Devido ao seu dom para a pintura, a família decide enviá-lo para a Escola António Arroio, em Lisboa. Frequenta o Curso de Formação Artística do SNBA. Em 1967 saiu de Portugal para residir em Bruxelas durante vários anos. Em 1969, com alguns amigos artistas plásticos, fotógrafos e escritores funda a associação internacional Monfaucon Research Center. Foi a partir desta viragem da sua vida que Al Berto decidiu abandonar a pintura e assumir-se definitivamente como "autor de textos literários". Regressa a Portugal a 17 de Novembro de 1974 e cria uma comunidade na antiga mansão senhorial da família que mais tarde será chamada de "Palácio". Constitui-se como editor e publica obras de alguns de seus amigos. Em 1976 abre uma livraria/editora em Sines, o que se tornará numa catástrofe económica devido à selecção dos livros para venda demasiado criteriosa que ninguém conhece e ninguém compra. Em 1977 fecha a livraria e regressa a Lisboa. Publica À Procura do Vento num Jardim d’Agosto, Collecção Subúrbios nº 2, A. Pidwell, Editor, Lisboa. Em 1981 entra para a Câmara Municipal de Sines como animador cultural, actividade da qual se demite passados cinco anos. Em 1988, recebeu o prémio Pen Club de Poesia pela publicação de O Medo. Este título reuniu num único livro (posteriormente ampliado e reeditado) a obra poética de Al Berto. Al Berto morre de linfoma em Lisboa a 13 de Junho de 1997.»

regressa do túmulo dos mares do sul
enterra os dedos na penumbra que separa o dia
da noite das cidades recorda o restolhar das serpentes
a seiva lívida do loureiro estremecendo ao sentir
o rosto da criança que foste contra o tronco

na tua memória já não existem paisagens de ossos
nem pássaros nem punhais de luz dentro da insónia
a criança que em ti morreu crescendo
usou sapatos com atacadores e gravata
pela primeira vez foi ao cinema sozinha
com olhar turvo de melancolia anda por aí
à procura de quem a queira

in HÍFEN 4, Abr/Set 89.

Colaborou no número 4 de HÍFEN.