31 julho 2019

PROGRAMA DA SESSÃO DO 10º ANIVERSÁRIO DOS CADERNOS HÍFEN EM 1997 NO RIVOLI - PORTO

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10 novembro 2009

EM REGULARIZAÇÃO

Este blogue,está em reformulação, pelo que se pede desculpa a eventuais visitantes.
Muito grata.

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02 abril 2009

LIVRARIA UTOPIA

Nesta livraria, encontram-se exemplares de números ainda não esgotados, destes Cadernos de Poesia.

LIVRARIA UTOPIA
Rua da Regenaração, 22

4 000-410 PORTO
telef. 968352292

20 dezembro 2007

HÍFEN – Cadernos de Poesia

13 números publicados desde Outubro de 1987 a Dezembro de 1999

Estes Cadernos, integralmente dedicados à publicação de poesia em português e noutras línguas, apresentaram o seu 1.º número em Outubro de l987, com colaborações inéditas, tiragem de 750 exemplares e periodicidade semestral. A partir do n.º 3 (Out. 88/Março 89) a revista passou a organizar-se tematicamente. Após este número intitulado A poesia/as outras artes, perfilhou-se, até ao último, esse tipo de estrutura, sempre com a necessária latitude multívoca, que qualquer trabalho com textos poéticos exige.

Os objectivos programáticos referidos no texto de apresentação do número inicial, aludiam à simbologia do título e propunham a confluência de diversificados dizeres, num todo, num só corpo. Nesta década vivia-se a sensação de algum esgotamento do poder subversivo das vanguardas e uma descrença na eficácia de rupturas, que quase sempre conduzem a revivescências modalizadas de atitudes estéticas muito anteriores ou de outras latitudes (o que poderá ser excelente, quando se atingem sínteses originais, entre traditio e revolutio).

Hífen escolhe, desde o início, o espaço de produção poética inter-geracional. E assim nas suas páginas tocam-se lado a lado poemas inéditos de grandes nomes da poesia e de outras vozes conhecidas e a conhecer. A esta publicação interessa surpreender essas vozes no labor comum de reaver as palavras inter-ditas, os silêncios in-tactos, o viço im-possível de uma visão in-audita e inicial.

Foram sucessivamente visitados os seguintes temas: Viagens (espacialidades e percursos interiores ou não); Tradução – número dedicado à (in)traduzibilidade da poesia - (poemas em diversas línguas - castelhano, italiano, francês, inglês, alemão, finlandês-, "mudados" por poetas portugueses), Heresias (que incluía a publicação de seis poemas inéditos de Jorge de Sena), Dias Inúteis (poética do quotidiano, com uma evocação tutelar, de Irene Lisboa), Artes Poéticas (respectivas «artes poéticas» dos poetas convidados), Poesia Hispânica (número dedicado à poesia em línguas ibéricas - galego, castelhano, catalão, basco), Anos 90 – alguns poetas (uma inicial aproximação à poesia da década em Maio de 97), O sítio das nascentes (origens, infância re-visitada ou re-inventada), Quatro PoéticasIrene Lisboa/Florbela Espanca/Natália Correia/Luiza Neto Jorge, (número dedicado à obra das quatro poetas portuguesas, com ensaios e poemas escolhidos por quatro ensaístas), Partituras (dedicada às contiguidades entre a poesia e a música).

A Hífen publicou, ao longo das suas treze edições, cerca de 160 poetas. Cumpriu a sua vocação inter-geracional, como se verifica, percorrendo os índices onde figuram inéditos de: Sophia de Mello Breyner, António Ramos Rosa, Eugénio de Andrade, Egito Gonçalves, Natália Correia, Fernando Guimarães, Fernando Echevarría, Ana Hatherly, Alberto Pimenta, Fiama Hasse de Pais Brandão, Maria Teresa Horta, Pedro Tamen, Vasco Graça Moura, Nuno Júdice, Gastão Cruz, Al Berto, Luís Miguel Nava, Joaquim Manuel Magalhães, Paulo Teixeira, Fernando Pinto do Amaral, Manuel António Pina, Adília Lopes, Ana Luísa Amaral, Rui Pires Cabral, Luis Quintais, Rui Cóias, João Luís Barreto Guimarães, etc, etc.
Poetas de outras línguas vertidos para português, em traduções inéditas, como: Antonio Machado, Jorge Luís Borges, Paul Celan, Sylvia Plath, Günter Grass, e. e. cummings, Ezra Pound, Thom Gunn, Ingeborg Bachmann, Roberto Juarroz, Dino Campana, Sandro Penna, etc, etc, incluindo aqui o n.º 9, integralmente dedicado às poéticas hispânicas.

Esta publicação sempre prezou a invenção gráfica, entregando essa concepção, no número inicial a Tiago Manuel e nos restantes a Nuno Lourenço e Jorge Figueira, e o espaço das suas capas a diversos artistas plásticos como: José Rodrigues, Alberto Carneiro, Tiago Manuel, Ana Hatherly, João Louro, Luís Palma, etc.

A partir do 5º número, o formato inicial de quadrado perfeito foi modificado para o tamanho A4 e reduziu-se a tiragem para 500 exemplares, pois o péssimo serviço da empresa de comércio livreiro, o modesto consumo de poesia, por parte dos leitores, a prevalência da ficção e o sindroma do best-seller para pôr na estante (num tempo sem net, onde ainda havia estantes…), foram implacáveis. Diversos números tiveram o apoio da Fundação Eng. António de Almeida, no Porto, com a aquisição de exemplares e nas últimas três edições foi concedida uma bolsa de apoio à edição, do Instituto Português do Livro e da Leitura, traduzida na aquisição de exemplares que a revista enviava a expensas próprias a uma rede de bibliotecas nacionais. O custo das embalagens e portes de correio revelavam-se, então, bastante desfavoráveis. O avolumar de dificuldades e a pesquisa temática que se pretendia exigente levaram à alteração e alargamento da periodicidade.

Hoje, como ontem, no texto introdutório a Viagens de 1989 ainda poderíamos desejar:
(…) Continuar a inserir-se livremente naquela fissura (…) de uma publicação à revelia de indústrias, controles culturais e outros (…) Lugar inseguro e aparentemente invertebrado (…) construção que sempre cria uma geografia final, inesperada e surpreendente.

Inês Lourenço
Outubro 2003

(texto solicitado pela Coimbra 2003 – Capital da Cultura, no âmbito de uma iniciativa dedicada a Revistas de Poesia dos Anos 80)

01 dezembro 1999

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PARTITURAS


Na convergência para que tendem as diversas artes, por intermédio de suportes, linguagens e processos diferentes, não será o par música/poesia o que menos comunga em sintonias e obras.

Pensámos, assim, compor uma HÍFEN em que essa antiquíssima aliança fosse motivo e celebração, convocando do sacro ao profano, por orientes e grécias, do apolíneo ao dionisíaco, do gregoriano ao jazz, do canto lírico ao fado, do lied à country, aliando sons ou atonalismos por inventar.

Vasco Graça Moura, um dos nossos poetas que tem cultivado a coabitação das duas artes, exprime e exemplifica com textos seus, numa Pequena Antologia em vídeo da sua obra poética (ed. Estrutura de Projecto do Ensino Básico Mediatizado), a preliminar impossibilidade de fazer coincidir um acorde musical (que pode ter nove ou mais notas) com a incapacidade de sobrepor sílabas ou palavras entre si, sem anular qualquer sentido verbal apreensível. No entanto, recenseia na sua própria poesia e na de outros autores "três maneiras concretas para um poeta, de abordar a música": por equivalente metafórico - e alude a Eugénio de Andrade; por pendor descritivo na evocação de composições e compositores - e refere a Arte de Música de Jorge de Sena; ou ainda por tentativa estrutural procurando aplicar na poesia, "com todas as limitações daí decorrentes", certas formas estruturais de música como, por exemplo, a Fuga, ou outras inflexões incluindo o contraponto, ou até a sobreposição de sonoridades repetitivas, visando um contacto com a divindade: o inefável na música. O enorme nome de J. S. Bach perpassa aqui, como perpassa, lembramos nós, o belo poema de Paul Celan Todesfuge ou até, elevando-nos mais além, em geografia apenas, os mantras entoados pelos monges tibetanos nos templos budistas.

Do conseguimento desta pequena celebração HÍFEN, por demais ambiciosa, falarão as páginas deste caderno, que inclui, por ordem cronológica de data de nascimento dos autores, partituras inéditas (sobre poemas) de compositores portugueses, e textos de poesia inéditos de diferentes estéticas e gerações, como é timbre desta publicação.*

Só uma final referência ao texto, em prosa, de Mécia de Sena, cuja personalidade incontornável e estilo vivo estão bem patentes no depoimento que presta sobre a ambiência musical do seu trajecto com o autor de Arte de Música. Agradecemos igualmente a Eduardo Lourenço a cedência do seu texto, publicado recentemente na imprensa, sobre o desaparecimento (não será permanência?) da espécie de menestrel feminino que todos conhecemos (apludindo ou não) nas vésperas da viragem de milénio e que se nos afigura de completa pertinência incluir aqui.

Porto, Dezembro de 1999
I.L.



*Em alguns conjuntos poema/partitura, segue-se a ordem cronológica do compositor, dado o poema ser a parte não inédita da associação.

HÍFEN - CADERNOS SEMESTRAIS DE POESIA
N.º 13 - DEZEMBRO 1999
(«Partituras» - número temático)

Capa - Nuno Lourenço
Fotografia da Capa -José Manuel teixeira da Silva

Colaboração: Mécia de Sena, Eduardo Lourenço, Ana Hatherly, Filipe Pires/Eugénio de Andrade, Alberto Pimenta, Maria Teresa Horta, Fiama Hasse Pais Brandão, Mário Cláudio, Nuno Júdice, Helga Moreira, Paulo Pais, António Pinho Vargas/António Ramos Rosa, Ana Luísa Amaral, Fernando Fabião, Sérgio Pereira, José Manuel Teixeira da Silva, Carlos Azevedo/Luís de Camões, João Luís Barreto Guimarães, Lloyd Cole/trad. João Luís Barreto Guimarães, Nuno Moura/Tiago Cutileiro, Valter Hugo Mãe.
Direcção - Inês Lourenço

11 julho 1999

A POESIA DE LUIZA NETO JORGE


Ramiro Teixeira

Eis um número mais da revista "Hífen", o qual se apresenta sob o signo de quatro poéticas - Irene Lisboa, Florbela Espanca, Natália Correia e Luiza Neto Jorge -as quais, por sua vez, são objecto de outras tantas apreciações literárias, a cargo de Paula Morão, Eunice Cabral, Maria de Fátima Marinho e de Rosa Maria Martelo, textos estes e intenção programática antecedidos de um poema inédito de Ana Luísa Amaral, o qual, dir-se-ia, dá o mote para este projecto: “Chegadas de paisagens tão diferentes, / estrangeiras entre si, / criaram esse sol de uma outra / cor, de musa congelada / e surreal, de páginas demais / ou compridas, / linhas intercaladas e buracos / nas linhas…”.
Razões compreensíveis de espaço impedem-se de tratar estas quatro poéticas e consequentes recensões do mesmo modo, razão pela qual, tendo de eleger apenas uma, para a acção mediadora que justifique este texto, me decidi por Luiza Neto Jorge, atento a que, esta poeta, ao contrário das demais, foi uma criadora de obra inacabada ou interrompida.
Talvez haja algum exagero nesta afirmação ou conceito, mas o facto é que a obra de L.N.J foi tão espaçada e reduzida que coube por inteiro no volume "Poesia", editado em 1993. Não obstante, qualquer dos títulos da autora se caracterizou, desde logo, pelo sentido de mudança que comportaram. Pela exemplaridade do processo criativo, que teve como primeiro embate o confronto com a tradição surrealista, situação a que não deve ter sido estranha a outra condição literária de L.N.J., ou seja, a sua outra faceta de tradutora de obras de André Breton, Raymund Roussel, Boris Vian, Verlaine, Celine, etc.
O conhecimento profundo destes autores permitiu-lhe, decerto, adentro da prática so surreal, exprimir uma racionalidade que muito tem que ver com a irracionalidade comportamental do ser humano, e o da escrita em si, quer pelo primado dos códigos morais que condicionam o comportamental social, quer pela imposição gramatical que se sobrepõe a toda a prática discursiva no plano da escrita.
Ora, a (i)racionalidade, no caso do comportamento humano, exprime-se através da sexualidade, da tenacidade erótica e sensual que o atravessa, entre exaltantes momentos de prazer a que todo o controlo de ser sucumbe. A reprodução desta irracionalidade no plano da escrita, do poema, no comum dos casos, é sublimada pela exaltação lírica e sentimental, ou seja, pelas mágoas e alegrias do amor de alguém por alguém, as quais, dir-se-ia, são de natureza mais espiritual do que física.
Não assim, porém. no caso de L.N.J. Não porque ela rebaixe estes sentimentos ao rés do físico; na verdade, até procede de forma inversa, isto é, determina o corpo como factor subversor da moral e da gramática, de onde resulta que o corpo passa a ser, verdadeiramente, o tema fulcral dos sentidos e dos poderes visionários das palavras, logo, a sublimação por excelência.
Atente-se, por ex., ao poema "O Corpo Insurrecto” (Terra Move, 1966), de que apenas reproduzo estes versos: "Sendo com o seu ouro, aurífero, / o corpo é insurrecto. / Consome-se, combustível, / no sexo, boca e recto. (…) mais talhado é o golpe / quando o põem em prática / com desassossego na respiração / e o sossego cru de quem, / tendo o corpo nu, / a carne ardida, / lhe pede o ladrão / a bolsa ou a vida.”
Atenta a esta vertente, diz-nos Rosa Maria Martelo que na poesia de L.N.J., “resistir (pela provocação da sexualidade assumida) é recuperar uma unidade que a sociedade alienou, é o desactivar dicotomias como as que opõem o corpo e o espírito, o sonho e a realidade, o real e o imaginário… de forma a minar um edifício social repressivo”.
Eu não sei se, efectivamente, a luta pela expressão em L.N.J. passa profunda ou tangencialmente pelo social repressivo, ou se, ao contrário, deste confronto se serviu a poetisa para se assumir de maneira diferente. É matéria que nos levaria longe e que ficará para outra ocasião. Mais importante, me parece, é haver uma outra variante a ter em conta na poesia de L.N.J., e que sobressai particularmente em “Lume” (postumamente publicado em 1989), onde a autora descreve o seu próprio processo de envelhecimento, com o mesmo tipo de protagonismo e de aventura com que celebrara o erotismo, acabando por fundir, em identidades opostas, o mesmo tipo de recusa a uma feminilidade/humanidade passivas.
SE7E, Domingo, 11 de Julho de 1999

19 junho 1999

EXPRESSO, suplemento CARTAZ

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08 maio 1999

DIÁRIO DE NOTÍCIAS

(Pressione na imagem para ampliar)

01 dezembro 1998

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QUATRO POÉTICAS

Ninguém se admira quando, ao abrir uma publicação de poesia, depara com um reduzido número de autoras. Nesse pormenor, a HÍFEN não tem fugido à regra. Em cerca de centena e meia de poetas (incluindo traduções de outras literaturas), ao longo de onze edições, não chegam a três dezenas as participações femininas. Assim pareceu-nos pertinente, actual e desejável, neste seu décimo segundo número, pedir a quatro ensaístas portuguesas que escrevessem sobre quatro poéticas de autoras já desaparecidas, que têm marcado profundamente a poesia e os leitores, ao longo do século vinte – Irene Lisboa, Florbela Espanca, Natália Correia, Luiza Neto Jorge. Quanto, e de que forma, deixo às respectivas análises e escolhas emblemáticas realizadas, nas pequenas antologias que integram este caderno. À nossa re-leitura. À vossa / nossa grande emoção.

Serviu-nos igualmente de álibi e hipertexto o poema inédito de Ana Luísa Amaral que a seguir a esta nota introdutória se publica e onde as quatro autoras “Chegadas de paisagens tão diferentes, / estrangeiras entre si, / criaram esse sol de uma outra / cor (…)”. O poema abre-se numa surpreendente osmose recriadora das vozes a que, neste número, avivamos o lume. De “(…) uma planície em silvos e luares”, em “sonetos como portas giratórias”, no 2r9omantismo em sabotagem muda” por “uma porta de gonzos / infinitos,” para “um curto e asselvajado / laranjal (…)”.

Acercando-se a poesia de um estado permanente de transgressão, estranha-se como o universal, o neutro, enformados obviamente pelos modelos dominantes e pelas estéticas que se vão deixando canonizar, polarize ainda, tão fortemente, as máscaras do ser textual (e biográfico), que no caso feminino subverte a tradição, ao tentar encontrar (e encontrar-se) no “avesso” dos modelos culturais existentes, utilizando uma formulação de Maria Irene Ramalho(*).

Reconhecendo que “durante séculos, não há registo de uma voz feminina” na poesia portuguesa, dizendo embora que “isto não significa que o sujeito feminino esteja ausente” da Literatura (cantigas de amigo, Menina e Moça, Violante de Cysneiros, etc.), em capítulo dedicado a novas poetas portuguesas, Nuno Júdice, em recente volume, interroga: “Ponho uma questão prévia: existe uma poesia feminina contemporânea? Se a resposta é positiva, então terá que deduzir-se que, na poesia portuguesa, desde sempre, o feminino foi uma excepção”.(**)

Esperamos, com estas quatro notáveis “excepções” a que a HÍFEN, neste número, se dedica, convocando outros nomes de contemporâneas (Sophia, Fiama, Teresa Horta, Isabel Barreno, Ana Hatherly, Ana Luísa Amaral, Adília Lopes, Isabel de Sá, Helga Moreira, Rosa Alice Branco, Eduarda Chiote, etc.) cujos inéditos integraram já as suas páginas, exercer amplamente a sabotagem da regra.

Porto, Dezembro de 1998
I.L.

(*) Maria Irene Ramalho de Sousa Santos, “Re-inventing Orpheus: Women and Poetry Today”, Comunicação apresentada no Institute os Romance Studies, Universidade de Londres (Fevereiro 1997) e na Universidade de Stanford, EUA (Abril 1997), p. 9. Oficina do C.E.S., n.º 114, Abril 1998, pp. 1-24. Esta questão havia também já sido abordada pela mesma autora em “O Sexo dos Poetas: A propósito de uma Nova Voz na Poesia Portuguesa”, Via Latina, Inverno de 1989/90, Coimbra, pp. 122-124.
(**) As Máscaras do Poema, Ed. Aríon, Lisboa, 1998, p. 234.


HÍFEN – CADERNOS DE POESIA
N.º12 – DEZEMBRO 1998
(«4 Poéticas» - número temático)

Capa e arranjo gráfico – Nuno Lourenço

Colaboração: Ana Luísa Amaral, Paula Morão/Irene Lisboa, Eunice Cabral/Florbela Espanca, Maria de Fátima Marinho/Natália Correia, Rosa Maria Martelo/Luiza Neto Jorge.

Direcção – Inês Lourenço.

26 julho 1998

O PRIMEIRO DE JANEIRO

(Pressione na imagem para ampliar)

15 junho 1998

JORNAL DE NOTÍCIAS


(Pressione na imagem para ampliar)

01 maio 1998

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O SÍTIO DAS NASCENTES

(infâncias e outros recomeços)

A ideia foi a de visitar, restituir inícios, inquietar infâncias e espaços de recomeço ou o desejo deles; nostalgias ou a ironia delas ou o reverso ou a expiação de tudo isto.

Não se pretendeu um simples número memorialista, conciliador de origens e processos, mas um som de retorno, que no conjunto de todas as participações fosse o encontro não-brando de tempos e lugares que nos proporciona o uso da poesia. E dizemos “uso” propositadamente, porque as várias formas de iluminar um verso ou linha de texto poético (lendo-o e reproduzindo-o) não se esgotam nos recitais, nos colóquios, nas exegeses, nos noticiários culturais, nos sites da Internet, etc., etc., como os arautos de uma pseudo banalização poética já parecem temer. Muitas gerações e muitos níveis de leitura não esgotaram (nem esgotarão) Camões, Shakespeare, Novalis, Bashô, Baudelaire, Whitman, Pessoa, Lorca, etc. (já para não recuar a textos mais antigos). É esta a soberana contradição da poesia, sendo tão ferozmente íntima e ao mesmo tempo tão plural.

Finda-se com a transcrição de dois excertos de um interessante artigo, publicado em 23 de Março passado, na secção de Economia (!) do jornal Público, sob o título de Vingança Poética (1), onde se dá notícia da circulação de poesia em comboios, autocarros de cidades da Europa, América, Ásia e Austrália, e das 1400 revistas e mais de 800 editores de poesia, que existem neste momento, no já citado continente americano. Tudo isto a propósito da 2visão tecnológica-arrogante de compreender o mundo” que se encontra, no dizer do articulista, “como estava há 400 anos: incerto e frágil”:

“Mas a poesia não é destinada ao prazer. Pode proporcionar prazer, mas a sua finalidade e por isso a sua força é outra. Cada vez que “experimentamos” uma obra de arte, arriscamos a segurança e a harmonia do presente – o mesmo é dizer, a ansiedade e a incerteza do presente. (…) e por isso e não porque os poemas são histórias-muito-lindas, é que na Turquia, na China, no Irão e um pouco pela África e pela Ásia muitos poetas acabam na prisão quando não acabam pior”.

Porto, Maio de 1998
I.L.

(1) da autoria de Fernando Ilharco.
Nota: A ordem alfabética dos autores, neste número, inicia-se do “ómega” para o “alfa”.


HÍFEN - CADERNOS DE POESIA
N.º 11 - MAIO 1998
(«O Sítio das Nascentes» - número temático)

Arranjo Gráfico – Nuno Lourenço
Na capa – Fotografia de José Manuel Teixeira da Silva, Roma, Catacumbas de S. Calixto, 1997
No interior – Gouache de Graça Martins, 3 bonecas sobre a manta de Freud, 1995

Colaboração: Vasco Graça Moura, Pedro Tamen, Pedro Paixão, Paulo da Costa Domingos, Nuno Júdice, Mário Cláudio, Manuel António Pina, José Viale Moutinho, José Emílio-Nelson, Jorge de Sousa Braga, Isabel de Sá, Helga Moreira, Gastão Cruz, Fiama Hasse Pais Brandão, Fernando Pinto do Amaral, Eduardo Pitta, Diogo Alcoforado, António Osório, Ana Luísa Amaral, Amadeu Baptista, Albano Martins.

Direcção – Inês Lourenço




15 dezembro 1997

O SOM & O SENTIDO

Eduardo Pitta

Uma revista de poesia por inteiro dedicada a novos autores é sempre um acontecimento. É o que acontece com o n.º 10 de Hífen - Anos Noventa (alguns poetas) -, onde se coligem poemas de Ana Luísa Amaral, Eva Ruivo, Firmino Mendes, João Luís Barreto Guimarães, Luís Quintais, Rui Penote Coias, Rui Pires Cabral e Sérgio Pereira. Que afinidades existem entre eles? Poucas. João Luís Barreto Guimarães, por exemplo, é o único que se estreou antes de 1990, e é também o único que já havia colaborado na revista. Os outros publicam pela primeira vez em Hífen, e as afinidades de discurso são mínimas. Vejamos como é. Em Ana Luísa Amaral (n. 1956), autora de quatro livros e professora de literatura inglesa, sobreleva o registo fotográfico: «O peso inexcedível da gravura/ amarela de tempo,/ uma inocência leve de cordeiro/ por tosquiar/ e lento/ (como nele seriam os rebanhos/ e as flores do prado azul,/ muito serenas,/ sem qualquer explosão)/ / O cajado e a pele por simbólica mão,/ e guardando,/ / guardando lentamente: guardando,/ eu te fizesse assim:/ com um amor tão grande anterior/ ao amor./ / O perfume embalado/ por mim/ / e pela noite». Apesar dos diferentes níveis de tensão, a intriga flui com desenvoltura, presume-se que em consequência do largo convívio da autora com as tradições anglo-saxónicas. Rui Penote Cóias (n. 1966), sem livro publicado, aproveita bem as lições de T. S. Eliot, e opta pelo monólogo dramático: «Se quiseres que eu me perca, buscarei outra ilha./ Esperarei a morte diante dos olhos,/ o milhafre junto à ravina de crisântemos […] Não te esqueças:/ aprendi um dia que deus nos traz um sono/ leve que nos cega». O jogo das relações paradigmáticas, nimbado de algum hermetismo, empresta aos seus poemas (gratificante descoberta) uma tonalidade exemplar. Eva Ruivo (n. 1963), autora de Rosa de Jericó (1994), dá voz a uma desenvolta sensibilidade expressionista: «Os meus domínios não são os do movimento/ browniano dos rins ou o aturdimento/ neurótico da mão, Isolda sofreu menos./ / Espere... Não fale… - Farejo pegada a folhagem/ rasteira, um tronco fendido há momentos/ à passagem dum animal de pêlo, é a canção/ vegetal que se expande na clareira, cheiro até ao centro». Rui Pires Cabra (n. 1967) domina a estrutura narrativa com razoável segurança: «Peluches e retratos criavam uma nódoa/ no ar à sua volta, o tempo chupava os olhos/ das bonecas como açúcar./ / Eu seguia aquelas ruas muito depois/ das janelas, pelos toldos que se abriam/ contra o volume da noite». A prosódia é outra das suas preocupações. Ao contrário do que acontece com Firmino Mendes (n. 1949) e Sérgio Pereira (n. 1958), em cujos poemas esse aspecto é descurado. Em ambos, o prosaísmo é de regra. Mais contido no primeiro (a linguagem de Firmino Mendes oscila quase sempre entre o referente central e a ressonância conatural), grandiloquente no segundo (as colectâneas de Sérgio Pereira não desmentem esta asserção). Nos poemas de Luís Quintais (n. 1968) encontramos composições minimalistas - «Colunas altas/ Electricidade/ Estações/ / abandonadas nos limites do plasma», especulativas - «Conheces aquelas telas de Rothko/ em que as leis da percepção se esboroam?», e torrenciais - «Não fosse a minha impossibilidade/ em escutar-te, distraído pelo fúnebre espectáculo/ de uma esperança que acaba no preciso momento/ em que o último dos homens desaparece no horizonte negro/ das árvores altas, e talvez ousasse atribuir-te/ esta opacidade [...]». A tonalidade pós-moderna, naquilo que ela pode ter de superficial ou paródico, ajusta-se aos poemas em rosa, que, à maneira de um diário João Luís Barreto Guimarães (n. 1967) escolheu para este número. A propósito dos sonetos de um livro do autor, Nuno Júdice fala de «uma expressão quase inteiramente discursiva e antilírica» (cf. Viagem por Um Século de Literatura Portuguesa, 1997, p. 95). Então deve ser isso. É claro que Hífen 10 podia ser outra coisa. Tudo pode ser outra coisa. Mas, como está - oito poetas, nascidos entre 1949 e 1968, com uma média de três livros publicados por autor, à excepção de um estreante -, não deixa de constituir uma excelente oportunidade para tomar o pulso à mais recente poesia portuguesa. Falta gente? Falta sempre gente. Não obstante, o mérito não é negligenciável e deve ser creditado a Inês Lourenço, a editora.